quinta-feira, 22 de agosto de 2013

poema meridional



poema meridional

ao pedro prata

conheço, a fria lava que te banha o outono
conheço, a desenfreada face que te abriga a noite
e o molde que te alberga o sonho

e vejo o teu sorriso que resiste à erecção dos deuses
e um leito que te esboça agreste uma memória de seios febris

vejo o meandro do teu rio onde as margens são palavras de liberdade,
vejo a seiva e a tempestade da tua paleta de cores
e o teu ritual de fogo como um refúgio paternal

vejo as poeiras que madrugam dos teus mares de dezembro
das noites grávidas que perseguem os teus pincéis
e dos territórios frágeis diluídos no líquido amniótico

e vejo um mar de naufrágios impossíveis
e um dia mais longo que a vida com um bosque ancorado ao silêncio

vejo espasmos de prata atirados ao vento
e gritos que beijam os teus desejos

eis  as sombras que a luz não apaga.

Miguel de Carvalho
2 de Setembro de 2011

Editado na revista “Telhados de Vidro”


Edições Averno

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