poema meridional
ao pedro prata
conheço, a fria lava que te banha o outono
conheço, a desenfreada face que te abriga a noite
e o molde que te alberga o sonho
e vejo o teu sorriso que resiste à erecção dos deuses
e um leito que te esboça agreste uma memória de seios febris
vejo o meandro do teu rio onde as margens são palavras de
liberdade,
vejo a seiva e a tempestade da tua paleta de cores
e o teu ritual de fogo como um refúgio paternal
vejo as poeiras que madrugam dos teus mares de dezembro
das noites grávidas que perseguem os teus pincéis
e dos territórios frágeis diluídos no líquido amniótico
e vejo um mar de naufrágios impossíveis
e um dia mais longo que a vida com um bosque ancorado ao
silêncio
vejo espasmos de prata atirados ao vento
e gritos que beijam os teus desejos
eis as sombras que a
luz não apaga.
Miguel de Carvalho
2 de Setembro de 2011
Editado na revista
“Telhados de Vidro”
Edições Averno
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